Pitty fala sobre sua banda e tentativa de suicídio

[Lívia Chasez]

Ela está no meio musical desde sempre e nunca pensou em fazer nenhuma outra coisa. Tocou com o Inkoma, sua última banda antes da carreira-solo. As músicas ela começou a escrever em um diário, daí o tom confessional de letras como Equalize, que fala sobre sexo, pura e simplesmente. Pitty, que namora o baterista ad banda, Duda, de 26 anos, é atraente e se encaixa no perfil roqueiro de piercings e tatuagens. Não foi sempre assim, pois era um "patinho feio" na adolescência, com óculos, magrelinha, como já dissemos, etc. Hoje, pode até pintar paixões na estrada que ela e Duda estão preparados. "Mudei, graças a Deus", confessa ela em entrevista ao Terra. Agora uma mulher, só encontra problemas em sua banda de meninos quando está na TPM. Pitty: "Eles não entendem, não tem jeito, mas são uns amores". Para completar, no papo com a reportagem, ela até brinca com uma suposta "tendência suicida" sua.

Confira a entrevista:

Você ainda se relaciona com os membros de sua antiga banda, o Inkoma?
Sim, são meus amigos. Terminamos a banda na boa total. Foi natural, nem decretamos o fim. Cada um começou a fazer uma coisa. O baterista da última formação toca no Dr. Cascadura, banda das antigas de Salvador. O guitarrista tem uma banda meio reggae e o baixista mudou para a profissão "pai".

E você, não pensa em entrar para profissão "mãe"?
Ainda não. Por enquanto meu instinto maternal está tranqüilo - se é que ele existe. No dia que rolar vai dar para reconciliar. Esse é um momento de muita batalha e não estou com vontade de me prender. Uma vez que se tem um filho, não existe deixar de lado, é um compromisso.

Em que momento de sua vida resolveu virar cantora?
Cara, quando vi que não sabia fazer mais nada da vida. Comecei, as coisas foram acontecendo - e algumas coisas acontecem assim na vida. Vi que era isso que eu gostava, que me completava, que era meu meio de expressão mais forte. Quando decidi viver disso percebi que não ia ser feliz fazendo mais nada.

O tema da música Máscara é bem claro (n.e.: ser você mesmo e não copiar os outros). Em nenhum momento de sua vida você se viu imitando alguém?
Eu tive também esses desvios de personalidade, em que você não sabe o que quer. Nos espelhamos em uma pessoa mais velha, em pessoas distintas. E em determinado momento começa a ganhar autoconfiança. Eu era muito tímida, sempre me senti o Patinho Feio da história, magrelinha, de óculos e pequena. Minha auto-estima era meio baixa. Mas a coisa vai mudando e o mundo tem de te aceitar do jeito que você é, do contrário você vai ser sempre uma xerox.

Você está com 25 anos. Acha que mudou muito comparado com seus 18?
Mudei, nossa, graças a Deus. Baixinha eu sou e não cresço mais. Não uso mais óculos. Mudei. Mas a mudança não foi tão física, foi mais por dentro - e espero que para melhor! (risos)

Para o Admirável Chip Novo, você, o guitarrista Peu e o baterista Duda compuseram músicas só para o disco, sob encomenda, ou tinham músicas na gaveta?
Não. Na real as músicas fui eu quem fez, antes do disco. Fiz para mim, não tinha objetivo específico. A última coisa que pensava era gravar elas, até que o Rafa (n.e.: produtor do disco) me disse para registrarmos elas, aí que me juntei aos meninos e eles mais ajeitaram arranjos, formataram as partes, do que compuseram material.

As músicas parecem realmente ter sido construídas em cima das letras, como em Equalize, em que a melodia e harmonia parecem querer se encaixar ao som. É assim o seu método mesmo? Primeiro a letra e então os riffs, etc?
Não, necessariamente. Na real algumas pintaram como riffs, outras fiz primeiro a letra.

Você tem algum ritual antes de entrar no palco?
Engraçado. Podia fingir e dizer que durante 15 minutos fico meditando (risos). Mas estar perto da galera da banda, dar um abraço, juntar as energias das quatro pessoas para que fiquemos na mesma "vibe", juntar as cabeças, são coisas mais comuns antes de entrar no palco.

Um uisquezinho ou cerveja, não rola? Alguns cantores gostam disso.
Sim, se der vontade - geralmente dá (risos). Mas cerveja. Sou contra os estereótipos de que roqueiro tem de fazer cara de doidão, ficar louco. Prefiro ter uma postura mais à vontade.

E sua relação com as drogas, como é? Os fãs perguntam?
Tenho uma relação tranqüila. É preciso ter consciência do que se faz. Tenho as minhas vivências. As pessoas perguntam mais o que é que ouço, o que estou lendo. Não me sinto capaz de aconselhar alguém. Tento ir com muito cuidado, por isso não me abro muito. Sei que tem uma molecada lendo e ouvido e não quero influenciar ninguém. Mas, em todo caso, vamos ler bons livros, estudar.

O que acha da Sandy como cantora?
Sei lá. Ela canta bem. Não é meu estilo musical predileto.

Conhece as meninas do duo t.A.T.u.? O que acha delas?
Conheço. Assim, né: conheço, mas não conheço. Às vezes vemos um clipe e ficamos com uma impressão. Mas depois que comecei a colocar a cara na roda, o cu na reta (risos), passei a entender que não é tão bacana fazer um julgamento precipitado das coisas. É preciso ouvir duas vezes algo para não interpretar errado. Vi o clipe, achei interessante. Agora se é um golpe de marketing ou é real, só no segundo disco é que vamos saber. Se for verdade, acho bacana. Tem de mostrar mesmo, tem se beijar na boca mesmo.

No que difere, na sua opinião, das demais cantoras jovens brasileiras como Sandy, Wanessa Camargo, Luciana Mello...
Cada uma tem seu segmento. Eu canto rock, a praia delas acho que é outra. Mas é diferente naturalmente. A Luciana é mais black music. A Sandy é mais pop.

Ser vocalista mulher em uma banda deve ser difícil, até na parte logística. Ou seja, não dá para dividir quarto com músico homem... ou dá?
É tranqüilo. Eles que ficam mais... sei lá! Meus melhores amigos foram homens e ficam super à vontade. Eles não entendem algumas coisas, como a TPM - e mulher tem mesmo. Por mais que me sinta à vontade, somos de outro gênero. Mas eles são uns amores.

E nesses períodos que "eles não entendem", você fica facilmente irritada?
Fico mais sensível, como manteiga derretida. E é engraçado: depois de mais velha é que comecei a ter TPM. Mais jovem, se tinha, não percebia. Com o tempo vamos percebendo melhor essas coisas de mulher.

E paixões na estrada, já aconteceram? O rock está meio misturado com amor, loucuras, etc.
Não. Ainda não. Se pintar paixão, vai ter de ser dupla, pois namoro o baterista da minha banda. Mas a gente é muito livre. Não posso falar por ele, pois somos muito novos. Estamos vivendo juntos e eu quero que ele seja feliz, quero que conheça pessoas legais. Não sei se a gente se basta. Nunca aconteceu, no dia que vivenciarmos isso... Mas, a priori, eu quero que ele seja verdadeiro, que não esconda as coisas. Mas ele já fala "pô, olha que mulher gostosa" e eu "ó, tal cara...".

Na sua infância, que letra de música mais traduziu suas angústias, seus medos, suas dúvidas?
Gostava de Como Nossos Pais, de Elis Regina.

Tem uma declaração sua de que saltaria do penhasco sem pára-quedas. Você não tem tendências suicidas, tem?
(risos). Tenho sim, lógico. Temos de nos arriscar. Pra morrer basta estar viva. Me atiro, mas quero saber se o pára-quedas abre, pois imprevistos acontecem. Temos de seguir nossos caminhos, cair no mundo. Sou meio angustiada por natureza, isso já é dentro de mim, essa angústia. Sou guerreira pra caramba, viro pomba-gira. Tem esses dois lados da moeda. Sou muito de lua.

Ricardo Ivanov / Redação Terra